terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Carta de Repúdio à Política Cultural da SECULTFOR na Vila das Artes

Foi dentro da antiga ACCV (Associação Cearense de Cinema e Vídeo), uma organização da sociedade civil, composta por artistas e produtores de audiovisual locais, que o projeto da Vila das Artes foi proposto, discutido e gestado. A gestão municipal começava uma nova política que incluía participação popular, fomentando a criação dos fóruns e conselhos como atores sociais, aliados na construção de uma política cultural para a cidade. A Vila das Artes saía do papel e ganhava corpo, a partir da primeira turma da Escola Pública de Audiovisual, que foi acompanhada logo após pela Escola Pública de Dança, abrindo um novo horizonte de formação na cidade. Ao longo dos anos a ACCV se tornou Fórum Cearense do Audiovisual, em consonância com o surgimento dos demais Fóruns das Linguagens. A Vila passa a construir seu projeto pedagógico numa experiência de política transparente e horizontal, expande suas escolas em variados programas: cursos extensivos, cursos livres, seminários, cineclubes, ateliês, debates incalculáveis, danças nas escolas públicas, dança básica, laboratórios de investigações estéticas em dança. Multiplica-se e se consolida na cidade, através da formação de seus muitos alunos e da legitimação de seus conselhos nacionais e locais reavaliando ano após ano o pensamento formativo de suas escolas.
   
Dez anos se passaram e a cidade reconhece a Vila das Artes. Os artistas oriundos dessa política participativa contribuem e constroem a Vila. A Universidade Federal do Ceará reconhece, chancela e celebra a Vila. Porém, hoje, a Secretaria de Cultura de Fortaleza, ignora as vozes de todos esses agentes, dos alunos e de todos os Fóruns das Linguagens e decide, de maneira arbitrária e sem qualquer abertura real para o diálogo, formar uma nova diretoria e um novo conselho com o intuito de gestar um novo projeto político pedagógico na Vila das Artes. A Secretaria ignora a vozes dos alunos e artistas que hoje ocupam a Casa do Barão de Camocim, ignora suas demandas, seus anseios, passando por cima da possibilidade de construir um projeto em comum, modelo de construção que tornou a Vila o que ela é hoje em dia. O que está em jogo não são apenas nomes e cargos, mas a História da Vila das Artes e seu modelo horizontal de política e criação.



A Vila das Artes é o espaço habitual de reunião dos membros do Fórum Cearense do Audiovisual. Nosso senso de atuação democrática, prezando pelo debate horizontal, pela construção participativa das políticas culturais encontra moradia dentro da Vila. Entendemos que esse gesto de escolha da nova diretoria, coordenação e conselho pedagógico desrespeita tudo o que o projeto da Vila das Artes construiu nesses anos. Ao agir dessa forma a Secultfor mostra com clareza que não considera nem quer dialogar com quem trabalha e vive pela Vila das Artes. Não se pode gerir esse processo sem a participação dos Fóruns das Linguagens, dos alunos, dos artistas e funcionários que fizeram e fazem a Vila das Artes. Não enxergamos esse processo da pasta de cultura como uma transição. Essas são práticas excludentes, práticas que violentam diretamente os princípios democráticos que a Vila construiu e defendeu ao longo dos seus dez anos de História. As políticas culturais construídas até então, com base na legitimidade dos fóruns locais, no diálogo com os conselhos, junto aos alunos e corpo técnico da Vila foram desmoralizadas e ignoradas.

O Fórum Cearense de Audiovisual repudia a forma como a Secretaria de Cultura de Fortaleza define a política da Vila das Artes. Não reconhecemos como legítimo um processo que se baseia em práticas autoritárias e excludentes. Ao invés de impor, dispor. Ao invés de confudir, explicar. Ao invés de esconder, revelar. Ao invés de repelir, aproximar. Ao invés de ignorar, aprender. Acreditamos no que foi construído ao longo desses dez anos e apoiamos a forma proposta pelo Fórum das Linguagens e pelos alunos da Vila: um debate franco e plural para a escolha da nova diretoria, passando por uma indicação de uma lista tríplice feita pelos atuais conselheiros, alunos, fóruns e agentes da Vila das Artes; o respeito aos conselhos instituídos e aos fóruns; a continuidade do projeto político pedagógico reconhecido e validado, em contraponto ao anúncio de projetos e pedagogias que se dizem novos, mas que acontecem a partir de práticas políticas velhas, resistentes ao encontro, ao debate amplo; ao respeito pela História e características singulares desse lugar único que é a Vila das Artes. Não aceitamos retroceder.

Fórum Cearense do Audiovisual